18 de fevereiro de 2011

Entrevista - Jaime Daniel Cancela


Olá a todos que acompanham o RPG Pará!!!
Hoje o Blog traz para vocês uma entrevista com Jaime Daniel, RPgista, Dançarino de Tango (!!!), Ex-funcionário da D3Store, e um dos principais responsáveis pelo amadurecimento e desenvolvimento de nosso hobby, graças ao seu trabalho como Presidente da LUDUS CULTURALIS ( Uma ONG dedicada à promoção da qualidade de educação e inclusão social por meio de estratégias lúdicas utilizando o RPG).
Então, vamos saber o que o Jaime tem a dizer sobre diversos assuntos, que incluem trabalho, a vida de pai, o RPG e o Tango:



1 – Jaime, vamos começar com a pergunta clássica, como foi seu primeiro contato com o RPG?
A veia lúdica sempre foi forte em mim. Quando pequeno, alguns amigos me passavam jogos que eles não conseguiam entender as regras para que eu ensinasse a eles como jogar, então estava sempre atrás de jogos diferentes. Sinceramente, não lembro bem o que joguei primeiro, se foi Hero Quest ou se foi Aventuras Fantásticas, mas apesar de uma ou duas más experiências, comecei então um hobby que nunca mais abandonaria. Pelo menos até hoje estou jogando... 
2 - E quando foi que o RPG se tornou “trabalho” para você?
Bom, tem a questão de remunerado ou não...
Embora tenha feito um ou outro serviço remunerado, como organizar equipe de mestres na Bienal do Livro ou treinamento de executivos da Roche no Chile usando RPG, a grande maioria dos “trabalhos” que tive no RPG foi de graça. Meu primeiro trabalho pago real com RPG seria uma tradução para Devir, mas meu "emprego" de PAI chegou primeiro, e tive que deixar passar. Então, comecei a ganhar dinheiro com RPG com o blog Arca do Mestre (onde vendia material de segunda mão ou fora de linha) e depois aceitei o convite do Douglas "d3" Gumarães para criar a d3store. Hoje, fora da loja, tenho novos planos, alguns remunerados e outros não. Estou entusiasmado com a volta do Domingo RPG, da Arca do Mestre (com outro enfoque) e de um outro projeto que logo devo divulgar e espero que todos participem, inclusive vocês! 
3 – Você foi membro da Ludus Culturalis (Uma ONG dedicada à promoção da qualidade de educação e inclusão social por meio de estratégias lúdicas utilizando o RPG) e por dois anos foi o seu presidente, nos fale um pouco sobre a criação da Ludus e dos trabalhos realizados por ela.
Na verdade, fui presidente por quatro anos, pois fui reeleito! E aí fui eleito Diretor Secretário, pois o estatuto não permitia outra reeleição.
A LUDUS CULTURALIS foi criada com o objetivo básico de promover o Simpósio RPG e Educação, que teve quatro edições entre 2001 e 2008, fundada por educadores e praticantes de RPG que queriam demostrar que o RPG podia ser algo mais além de excelente forma de entretenimento. Creio que as principais conquistas da LUDUS foram:
- I, II, III e IV Simpósios RPG & Educação: Mais de 2.000 pessoas, entre professores, educadores e interessados, participaram das quatro edições, sendo que já começaram os preparativos para a quinta edição em 2008; com apoio da Devir Livraria, Terramédia, Apeoesp, SIMPEEM, Confraria das Idéias, Prefeitura da Cidade de São Paulo, Secretaria Municipal de Cultura, Centro Cultural São Paulo, SIMPEEM, Revista abcEducatio, Secretaria Municipal de Educação, Círculo de Leituras, Fundação Volkswagen e UNINOVE.

- I e II Colóquios Curitiba RPG Educação: realizados em Curitiba/PR em 2003 e 2004, com apoio da Prefeitura da Cidade de Curitiba, da Secretaria Municipal de Educação, Fundação Cultural de Curitiba, Terramédia, Itiban, Secretaria Municipal de Cultura e Gibiteca de Curitiba.

- Projeto RPG nos CEUs: durante 14 meses, mais de 4000 pessoas jogaram RPG nas unidades CEU (Centro Educacional Unificado) da Prefeitura de São Paulo, um processo que mobilizou 134 narradores voluntários em 192 visitas às 21 unidades de setembro a dezembro de 2003 e de março a dezembro de 2004.

- DIA D RPG: A LUDUS (na pessoa de Carlos "Caco" Lourenço) foi uma das participantes do I e II Dia D RPG, evento simultâneo que aconteceu ( e acontece, né?) em DIVERSAS cidades brasileiras, de todas as regiões do país, desde 2007.

- A travessia do Liso do Suçuarão: uma aventura pelo Grande Sertão de João Guimarães Rosa. Publicação de uma aventura-solo baseada na obra Grandes Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, na Revista do Ensino Médio do MEC (jan. 2004), com tiragem de 400 mil exemplares, distribuída em todo o território nacional.

- Teomaquia: a batalha pelo Olimpo. Aventura especialmente elaborada para treinamento de executivos, a pedido da Roche Farmacêutica, aplicada em Santiago, Chile, em agosto de 2006.

- Anais do I Simpósio RPG & Educação: transcrição das palestras do I Simpósio RPG & Educação, publicado em parceria com a Devir Livraria em 2004.

- Domingos de RPG na Casa das Rosas: encontros temáticos de RPG que aconteceram na Cada das Rosas, em São Paulo/SP, durante o mês de setembro de 2005, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo, a Secretaria Estadual de Cultura e o Espaço Haroldo de Campos de Literatura e Poesia.

- Jornadas Lúdicas: realizadas em janeiro e fevereiro de 2006, um encontro para fãs de RPG, cardgames e jogos de tabuleiro, em parceria com o SESC Pinheiros, em São Paulo/SP.

- Participação em grandes eventos de RPG, como as últimas edições do Encontro Internacional de RPG de São Paulo/SP e Curitiba/PR, e do RPG & Cultura de João Pessoa/PB.

- Palestras e oficinas, voltadas tanto para jovens quanto para educadores, que realizamos com grande satisfação em escolas, faculdades, empresas e instituições como: Externato Nerina Adelfa Ugliengo (Ribeirão Pires/SP); EMEF 'Antonio Carlos de Andrada e Silva' (São Paulo/SP); Colégio Senemby - Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio (Caieiras/SP); Colégio Marupiara - Ensino Fundamental e Médio (São Paulo/SP); Colégio Objetivo (Campos do Jordão/SP); Faculdades Associadas de Cotia (Cotia/SP); Círculo de Discussão da Meta-Arte, Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo (São Paulo/SP); Centro Comunitário de Vila Nova Cachoeirinha (São Paulo/SP); Escola Bosque - Educação Infantil e Ensino Fundamental (São Paulo/SP); Laboratório Aché (São Paulo/SP); Grupo Votorantim (várias cidades do Estado de São Paulo); Instituto Mairiporã de Ensino Superior (Mairiporã/SP); SESC - Ipiranga, Belenzinho, Interlagos, Pinheiros, Santos, São Caetano, Consolação, Taubaté e outros (SP); EE Domingos Mignone (Taboão da Serra/SP); Fórum da Juventude Ativista (São Paulo/SP); CLIP REBI (São Bernardo do Campo/SP); Fórum de Educação para a Não Violência (São Paulo/SP); Fundação Bradesco (Osasco/SP); EMEF Prof. Afrânio de Mello Franco(São Paulo/SP); EMEF Euclides da Cunha (São Paulo/SP); Colégio Saint Clair (São Paulo/SP), Colégio Objetivo (São Paulo/SP), EE Toufic Juliano (Carapicuíba/SP), 19ª Bienal do Livro (São Paulo/SP), Centro de Cultura Da Juventude da Prefeitura do Município de São Paulo-CCJ, e as bibliotecas municipais Paulo Duarte, Malba Tahan e Monteiro Lobato (São Paulo/SP).

Isso para não citar as entrevistas para TV, jornais, revistas e diversas outras participações que vou acabar esquecendo de citar.
Isso foi pouco? Muito? Não sei, mas tenho a impressão que ficou coisa por haver... Ainda tinha muita coisa que a LUDUS poderia fazer... Mas tudo tem seu momento. E eu já estava cansado daqueles que tentavam promover-se com a LUDUS, e outros que queriam denegrir nossa imagem, insinuando que eramos caixa-dois da Devir, ou que nós tinhamos sido criados apenas para criar um argumento de defesa do RPG contra as acusações de envolvimentos com crimes. Não ter que lidar com esses patetas ignorantes já serve de algum consolo pra mim.
4 – E qual é a sua analise do RPG e Educação hoje em dia?
Nunca antes na história deste país houve tanta coisa publicada sobre RPG e educação!
Brincadeiras a parte, têm muita gente boa (e outros nem tanto) trabalhando no assunto. Aqueles que foram a vanguarda deram espaço a um pessoal novo que esta aparecendo e quer dar sua contribuição a discussão, o que já prevíramos que aconteceria com o passar dos anos. Aquela garotada que era adolescente quando começamos a discutir o assunto hoje esta fazendo graduação, e na hora do TCC pensa "hei, se posso escolher um tema, por que não RPG?", e a bola de neve continua...
Mas é preciso que esse pessoal entenda o que REALMENTE significa a utilização da técnica do RPG na educação. Muita gente ainda pensa que é pegar a galera na sala de aula e jogar D&D para mostrar o que é um castelo. O pessoal não tem a menor noção dos trabalhos que tem surgido, com a utilização do RPG para ensino de biologia, português, inglês, astronomia, literatura, marketing, informática... nossa, tanta coisa! E ainda tem gente que acredita que RPG na educação é jogar dado e fazer continha... ah, para com isso!!
E NÃO, RPG E EDUCAÇÃO NÃO É UMA INVENÇÃO PARA DEFENDER O RPG. É um conceito inovador que pode ser uma interessante ferramenta alternativa para a educação, e pensar qualquer outra coisa é uma ofensa para muita gente competente que existe por aí!
5 – Em novembro de 2009, você escreveu em seu blog (http://jaimedanielleandro.blogspot.com/) um texto onde se perguntava se a Ludus ainda era necessária. Irei estender a pergunta, você acha que o trabalho feito por associações de RPG ainda é necessário? Principalmente na questão RPG e Educação?
Depende, qual o objetivo da associação?
Uma associação depende de vários fatores para funcionar, mas é primordial que tenha-se em mente duas perguntas:
1- Qual o verdadeiro objetivo da associação?
2- Como ela vai se sustentar?
Eu algum tempo atrás tive uma conversa com membros de um grupo de São Paulo que me perguntaram sobre o que eu achava sobre isso e aquilo no tocante a associações, e por que a LUDUS estava inativa. Eu comecei a citar os motivos e expliquei que achava bom ela estar parada, pois nenhuma associação vivia de entusiasmo. Vi que minhas respostas causaram mal-estar e perguntei como eles planejavam sustentar aquela organização tão interessante e quais os planos para realizar essas idéias. Ninguém me respondeu...
Uma associação de RPG é necessária se o seu trabalho é necessário. Então cada grupo tem que ser analisado em seu contexto e em sua realidade local. Que ninguém se engane achando que vai criar uma associação brasileira de RPG com alguma legitimidade, porque eu duvido que isso vá acontecer. Mas pequenos grupos organizados para promover encontros em suas cidades ou para criar e divulgar este ou aquele cenário e/ou sistema, esses sim eu acredito que continuarão a surgir de tempos em tempos.
Sobre a LUDUS, eu acho que ela ainda é necessária porque ela tinha um aspecto único que favorecia sua existência e facilitava seu relacionamento com os pesquisadores: ela não produzia material acadêmico, e sim se preocupava em mostrar tudo o que havia por aí, sem querer diminuir ou enaltecer projetos. Isso estimulava a participação de diferentes idéias e opiniões nos Simpósios RPG, até mesmo contraditórios. Os grupos que aparecem hoje são formados pelos próprios acadêmicos, que invariavelmente acabam criando grupinhos isolados, e isso não permite uma maior comunicação entre eles. E não acho que num curto espaço de tempo isso vá mudar.
6 – Você é marido de Maria do Carmo Zanini, Editora do Mundo das Trevas Storytelling, como você vê as criticas feitas por alguns jogadores ao trabalho feito por ela, principalmente no quesito tradução, como Rpgista e como marido?
Como marido E como jogador eu acho que críticas devem ser feitas com propriedade e se você realmente sabe o que esta falando. Caramba pare e pense: eu não concordo com isso por que está errado ou porque eu não gostei? Se está errado, então vamos dizer "olha, segundo o dicionário Clark Kent o termo schnervst significa anchovas, e não paralelepípedo! Você errou!!" Isso esta certo! Mas vir com "ah, eu não gosto que diga eqüino, quero que seja cavalo!!! Você é uma péssima tradutora!!!" então, qual é o parâmetro??? Eu detestei a escolha em D&D de traduzir o termo ranger para patrulheiro, mas estava errado? Não, era uma questão de gosto pessoal MEU, e não acerto ou erro.
Eu acompanhava muito as discussões no Orkut, mas deixei disso depois de perceber que aquilo é terra de ninguém. Um dos cidadãos postou "MC Zanini deveria ouvir mais a comunidade ao escolher os termos!" Ceeeerto! E o que ela faz ao colocar essa discussão no twitter? Ou no blog Contatos Imediatos, conquista pessoal dela no site da Devir? O engraçado é que o cidadão ignorou completamente os comentários daqueles que dizem gostar das traduções! Então eu pergunto quem é que deveria mesmo ouvir as opiniões dos outros?
Tempos atrás a MC entrou no Orkut devido a uma insistência minha para que ela se aproximasse mais da comunidade e esclarecesse algumas dúvidas, já que o contato da Devir com o público era péssimo. Lembro até hoje que dois ou três comentários depois da apresentação dela um sujeito postou "ela é da Devir galera, pau nela!". Um sujeito desses quer realmente discutir algo seriamente?
E se as pessoas realmente soubessem o quanto ela é dedicada ao trabalho, não teriam coragem de fazer certas ofensas. Ela, mesmo de licença-maternidade, continuou trabalhando (mesmo com meus protestos!) no concurso Eu Criatura, porque sabia que ninguém mais faria isso por ela na empresa. Já a vi perder uma tarde inteira para descobrir o significado de UM termo mais complicado de tradução. E o pessoal fica dizendo que as traduções são feitas de qualquer jeito, sem nenhum respeito pelo público, se bem que já reparei que parte desse pessoal não lê um livro da Devir a anos...
7 – E quem dá mais palpite nas traduções, você ou a Raissa? 
Eu NUNCA opino sobre as traduções. O máximo que acontece é ela pedir minha opinião sobre um trecho se esta claro o suficiente pra mim. Ela deve pensar "se ele entender, qualquer um entende..." rs.
O que acontece mais é eu ajudar com alguma idéia ou projeto ou servir de contato com este ou aquele grupo (por exemplo, quando algum blog quer entrevistá-la). Gosto de ajudá-la nos concursos, ou em outras idéias que vão surgindo. É meio complicado para MC, porque ao contrário de D&D, por exemplo, não há uma Equipe Mundo das Trevas. Então a MC tem que sera editora, traduzir, escolher os tradutores que farão outros títulos, revisar as traduções, verificar os títulos a serem lançados, responder e-mails, criar campanhas de divulgação da linha... Muita coisa pra uma pessoa só! Então ajudo como posso. Mas houve uma ocasião em que eu realmente me intrometi, que foi na ocasião da passagem do Storyteller para Storytelling.
Já a Raíssa também se interessa muito pelo trabalho da mãe, e tenta sempre contribuir com suas idéias... Volta e meia, se o notebook fica ligado, a MC chega e tem uma parte do texto assim "mnyuyhhhhhhhhhçwoxll,.........oeod,..."

8 – Você trabalhou durante algum tempo D3Store, a loja de vendas de livros de RPG e CardGame do site D3System, e assim como sua esposa, você também sofre criticas pelo seu trabalho, sendo chamado de mercenário, sacana e até psicopata! Como você reage a essas criticas e o que tem a falar sobre elas?
Ah, então você lê o meu blog! Sabia que tinha alguém que lia!
Olha, muita gente acha que RPG dá muito dinheiro. Mas isso é uma grande ilusão. E, ao contrário de todo mundo por aí, eu dou os números para quem quiser saber. Eu escrevi uma série de quatro artigos chamado Capitalismo e a arte sublime do RPG na qual eu falava abertamente sobre a produção editorial de RPG, mas acabei interrompendo a série depois do segundo artigo. Para alguns é automático o argumento "ah, mas se livro não dá dinheiro, como é que tem tanta livraria?" E eu respondo com outra pergunta então: Se RPG dá tanto dinheiro, por que a Martins Fontes, Companhia das Letras, Cosac Naify não entram no mercado de RPG? Será que elas têm medo das grandes editoras Devir, Jambô e Daemon? Fala sério...
RPG é um mercado de nicho, e um nicho bem pequeno! Uma tiragem realmente GRANDE de título de RPG é cinco mil livros, e somente livros básicos merecem uma tiragem assim. Esse foi um dos maiores imprecilhos para distribuição de RPG em bancas, pois até pouco tempo atrás a DINAP exigia um número grande de exemplares disponíveis para fazer a distribuição, mas parece que a política deles mudou um pouco.  Agora, vai comparar uma tiragem dessas com Harry Potter, Crepúsculo, ou até mesmo André Vianco.
Recebi um e-mail uma vez de um rapaz que reclamava que nós estavamos "nadando na grana" nos aproveitando dos pobres RPGistas. E ainda tem a história da menina que sem saber que o d3 estava do lado dela soltou que a d3store era de "capitalistas que se aproveitavam da arte do RPG". Já o sujeito que me chamou de psicopata disse que eu me cahava o centro do universo, por ser dono de loja, fazer promoções, eventos e ser professor de tango. Vocês entenderam o que ele quis dizer? Então me expliquem, pois até agora estou boiando.
E sobre dinheiro e RPG... ceeeerto! Porque os grandes jogos, como D&D, Mundo das Trevas, Mutantes e Malfeitores, Reinos de Ferro e até os nacionais Trevas e 3D&T são o que são por serem gratuitos, né?
Sério povo! Vão dormir!
9 – Baseado em seus dados de vendas na D3Store na época, O que o Rpgista brasileiro está jogando? E quais eram os livros mais vendidos?
 D&D domina!
Mas tem muitos que usam o material de D&D para outros jogos. Mundo das Trevas e Mutantes e Malfeitores também têm boa saída, mas o jogador brasileiro é vidrado em cenário de fantasia. Os cenários da Conclave, por motivos estranhos, não saem muito do estado de MG, o que acho realmente uma pena. Teve uma época que eu queria escrever material para um cenário deles, mas não deu certo. E Daemon, por questões particulares do d3, não entrava na loja.
Uma observação: Durante os Desafios D&D que organizei para o EIRPG, chegamos a ter mais de 250 pessoas participando em UM dia, tendo que deixar mais 50 de fora. Agora, sabe por que nunca realizei um Desafio Mundo das Trevas? Porque não conseguia narradores em número suficiente...
10 – Atualmente vemos o cenário rpgistico nacional centralizado nas regiões Sul e Sudeste, você acredita que exista espaço no mercado para material produzido em outras regiões como o Norte e o Nordeste?
 Não há limite geográfico para talento. Os polos sul e sudeste têm grande densidade demográfica e tem a vantagem de possuírem editoras de RPG. Talvez se surgisse uma editora com um bom trabalho no nordeste ou norte isso não fosse diferente? Eu acho ridículos preconceitos do tipo de que só há coisa boa aqui ou acolá. Tem uma boa idéia? Vá atrás das editoras e mostre seu trabalho. As editoras de RPG não se interessaram? Mostre para outras, você pode ser o responsável por introduzi-las em um novo mercado!
Eu soube de pessoas que não se interessaram em mostrar seu trabalho por acharem que aqui em São Paulo já devia estar sobrecarregado de profissionais desta ou daquela área. Pode ser, mas sempre vai haver espaço para o profissional de talento, seja ele de onde for. O que não pode é desanimar. 
11 - Como você vê a blogsfera rpgistica brasileira? Existe espaço para todos divulgarem suas idéias, ou ainda tem que se separar o joio do trigo?
 Tudo depende do que você procura...
A Internet é uma terra sem fim, tem material em quantidade absurda, principalmente se você não tem problemas com o inglês. Eu tenho dezenas de sistemas no meu computador. Mas a qualidade é outro assunto... De qualquer modo, acho válido que tanta gente escreva sobre o assunto. O problema é quando o sujeito quer discorrer sobre um tema que não entende, ou o máximo que sabe é o que leu na wikipedia, ou no ORKUT (MEDO!)
Na época que tínhamos problemas com os crimes imputados ao RPG não tinha semana em que eu não entrava em alguma discussão para esclarecer algum jogador quem tinha ouvido não sei quem falar que sabia de não sei que pessoa que tinha não sabe qual informação sobre um dos crimes... Era incrível o número de desinformações que o pessoal tinha! E sobre "os segredos das editoras" então? Eu lembro de um cara que falava que a Devir tinha recebido uma oferta de UM MILHÃO DE REAIS PELOS DIREITOS DE D&D. E a Devir não teria aceito devido aos interesses das empresas que a Devir representava. O rapaz devia ter sonhado com algum cenário de cyberpunk...
Mas tem muito blog legal por aí, que respeita a inteligência do leitor e faz um trabalho sério. Esses tem que ser valorizados! Vão atrás!
12 - Poucas pessoas sabem, mas você é dançarino e professor de tango. Como você começou na dança e porque o Tango?
 Comecei no tango antes de jogar RPG, aos dezoito anos. Minha família é uruguaia, e temos o tango como herança cultural. Além de gostar de dançar, o tango sempre me atraiu por ser dramático, e ter um pouco de representação nele, principalmente a milonga. Eu danço a vinte anos e já me apresentei em diversos teatros, clubes de dança e casas de espetáculo, mas depois que me separei de mjnha parceira, parei com os espetáculos e fiquei dando aulas ocasionais.
Por causa de meu gosto pela dança já escutei muita gracinha de jogador de RPG, que em geral prefere artes marciais. Algum tempo atrás num recôndito escondido da internet, um cara escreveu pra mim que achava que quem gostava de dançar era apenas viado. Eu respondi que estava muito satisfeito com minha condição de heterossexual, então a firmativa dele era totalmente equivocada. Ele continuou com o assunto e aí eu me enfezei. 
EU - E que arte marcial você pratica?
FULANO - Judô. Treino a cinco anos.
EU - Ok, e quantas vezes você lutou com mulheres?
FULANO - Eu? Nunca!
EU - Certo! Eu danço a vinte anos, e sabe o que é engraçado? NUNCA dancei com homem, só com mulheres! E você passa cinco anos agarrando caras por aí... Interessante, né?
Só para constar, eu treinei durante seis anos Kung Fu.


13 – E como está sendo a experiência de ser pai?
 Atualmente é a melhor época da minha vida. Minha filha esta com dois anos e é uma dádiva dos deuses. Alegre, ativa e simpática, mas um tanto manhosa. Toda minha galera que joga lá em casa todo sábado curte a menina, que já anda pela casa com dados  e livros de RPG, e quer ficar no meio do pessoal durante o jogo. Já tenho fotos dela folheando Mago o Despertar e Star Wars. E dorme abraçada com um dragão cor de rosa maior que ela.
Teve um dia que fiquei abatido por causa de umas bobagens que alguém tinha dito, e o grande mestre Rogério Saladino entrou no meu blog para dizer: "Jaime, você é pai agora! Olha o que você tem!"  E aí eu olhei pra filhota  e tudo passou.
Tem dias em que eu olho nos olhos dela e penso “sim, a magia existe!”.
14 - Quero agradecer a você Jaime por responder as perguntas do RPG Pará, e peço que deixe um recado para os rpgistas paraenses que acompanham os seus trabalhos.
Tem algum???

Sério, eu que agradeço por poder falar algumas coisas que tinha muita vontade. Tem gente conhecida que pensou em me entrevistar e mudou de idéia. Também recebi indicação para ser entrevistado por outro blog, mas a indicação se perdeu... Eu realmente não sou interessante...

Para os RPGistas paraenses, eu digo que mostrem ao resto do país que o Pará existe e esta firme e forte. Poucos anos atrás eu disse para algumas pessoas que o RPG & Cultura, de João Pessoa/PB, seria um grande evento e deram risada, subestimando o evento. Arrependeram-se tempos depois.
Espero que o mesmo aconteça com o Pará. E no que puder ajudar, estou as ordens!

8 comentários:

Guimas_moraes disse...

Muito boa a entrevista.

Unknown disse...

Sinceramente, conseguir ganhar dinheiro com RPG no Brasil já é um grande feito. Ninguém leva diversão a sério. Curioso né? Abraços e parabéns ao entrevistado e entrevistador.

Leonardo Teixeira disse...

Parabéns pela entrevista, não somente por ser bem esclarecedoura(como a entrevista com a MC) mas também para mostrar um outro lado da realidade que muita gente que critica desconhece.
Toda critica é bem vinda e quando feita com inteligência permanece e reverbera tendendo a somente construir.

Anônimo disse...

Muito massa a entrevista.
e Orkut realmente é terra de ninguém, fujam!

Unknown disse...

Poucos têm o gabarito no RPG nacional como o Jaime Cancela. Parabéns a ele que desbravou muito do cenário de RPG enquanto muita gente o criticava com olhares maldosos. Parabéns pela entrevista, muito bom.

Aesir disse...

A entrevista foi boa por mostrar várias facetas do RPG, como mercado editorial, trabalho com livros, contato com RPGistas (bons e maus), mas acho que o melhor mesmo é ver que o uso lúdico do RPG não é um vestíbulo, mas uma porta destrancada e boa pra se promover o hobby e levar (sim, porque não?) uma boa impressão. Parabens pela entrevista e ao blog!

Alexandre Batalha disse...

Gosto muito desse cara. Jaime Daniel é um exemplo a ser seguido, quando se fala de consciência e honestidade.

Se todos os RPGistas pensassem claramente como ele [quando a Raissa deixa ele dormir, é claro], as coisas seriam mais amigáveis no meio rpgistico.

Rodrigo disse...

O Jaime é um daquels caras dos quais vale a pena estar por perto. íntegro, esforçado e honesto, agora possui clareza e paciência o suficiente para rir dos Trolls quando estes batem suas cabeças.

E a história e o que nela for escrito com seriedade é o que fica.

Parabéns.
Allef
SPELLRPG

Postar um comentário