18 de junho de 2011

Dos Outros (1)


Em Dos Outros, vamos comentar postagens interessantes espalhadas no tapete virtual da internet.


SOBRE LOBISOMENS, VAMPIROS E O HUMANO


Autoria de Felipe Futada


Sempre gostei de lobisomens. Desde criança a imagem e lenda desse ser meio-homem e meio-lobo me atraem. Não que os vampiros não sejam criaturas que tiveram presença garantida ma minha infância e na minha juventude, mas por eles nunca nutri tanta empatia e curiosidade.


Sei que não sou só eu que ponho frente a frente esses seres em comparação. Desde sempre em filmes e nas rodas de RPG costuma-se contrapor lobisomens e vampiros. Eu nunca fui parte de um grupo de RPG, mas seguramente o cinema ajudou a formar esse imaginário de monstros e os diferentes conceitos que eles representam para mim, por mais bizarro que soe. Explico.


Lobisomem é bicho-do-mato, pé-no-chão e natureza instintiva. Vampiro me remete à roupa européia, capa, pompa de mordomo. Lobisomem exala testosterona, tem pelo no peito, é direto e reto, é o Jack Nicholson, mas tem alma brasileira de “causo” de cidade de interior. Vampiro exala perfume francês, é sensível ao sol, é cheio de firula (ainda que louco para morder logo o pescoço da mocinha), é o Tom Cruise e tem pinta de caricatura inglesa.


Vampiro é visual, egocêntrico e reflete a dinâmica do consumo de imagem. Tem que fazer cena e ter entrada triunfante, e com a outra cobrindo metade do rosto. Lobisomem é todos os sentidos à flor-da-pele, não tem cena de entrada, baba e rosna, uiva pra lua arrepiando qualquer um e sente o cheiro da caça.


O vampiro é o homem-comum, o Zé-pequeno do Reich, aquele que entra em crise frente ao espelho (ainda que não tenha reflexo) e fica remoendo pensamentos sobre sua condição semi-animalesca. Está envolto numa couraça falsa. O lobisomem não perde tempo com paradigmas. Quiçá os conhece, pois apenas obedece seus instintos em harmonia com a Natureza.


Vampiro é sorrateiro e medroso. Ataca a donzela sozinha debaixo da ponte e foge pra não ser descoberto. Lobisomem vai à caça da presa e se você cruzar o seu caminho te arrebenta também, só pelo fato de você estar ali.


Vampiro é meio-morcego. Um rato feio com asa que quando está bravo, guincha. Lobisomem é meio-lobo, um dos maiores mistérios da Natureza.


Vampiro transforma aos outros em vampiro e muitas vezes só age em bando. Lobisomem também contagia aos que morde, mas se você virar lobisomem é melhor que não seja no território dele porque a briga é feia.


Ambos seduzem as mulheres. Mas... as mulheres que se sentem atraídas pelos vampiros são as frágeis que se perdem no jogo de esquivas dos mesmos, com seu ar insólito de indefinição sexual. Já as que se sentem atraídas pelos lobisomens sabem o que querem, quando querem, como querem e acima de tudo sabem que vão ter.



Vampiro é meio melindroso... Lobisomem é da linhagem dos Rústicos.




Link original




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Colocando o RPG como prisma, entraremos numa velha luta de gostos, entre os góticos adoradores de vampiros e os brutais seguidores dos lobisomens.


Comecei jogando Vampiro, fui seduzido pelo chamado da noite e pelo poder de usar a humanidade como instrumento de satisfação, me vestia de preto, tramava conspirações sussurrando em becos, caminhando pelo asfalto úmido da cidade, fumando e bebendo sangue, comandava mentes, caindo cada vez mais na escuridão do inumano.


Então conheci Lobisomem e toda a fúria e glória do brilho prateado da Lua Cheia, viajei por mundos além do Mundo, falei com espíritos, encarei a face de monstros mitológicos, dancei e uivei ao redor de fogueiras com meus bravos e queridos amigos, irmãos em Gaia e morri gloriosamente, levando vários dos meus inimigos com garras e presas.


Glamour e Fúria, Desejo e Paixão, Discórdia e Confraternização, para mim estes são Vampiro e Lobisomem, dois grandes temas lúdicos, dois grandes jogos que eu tive a oportunidade de viver intensamente.


E você, prefere ser melindroso ou rústico?

1 comentários:

dklautau disse...

Irmão de tribo.

Reconheço-me nas tuas palavras. O trágico e o épico. A sedução da maldição de Caim é profunda, mas a devoção a uma causa que nos transcende reverbera em nossos ossos e presas. A transcendência tribal tão naturalmente sobrenatural, é muito mais sofisticada que a decadência civlizatória amadiçoada.
Se vampiro expõe nossa podridão humana e revela nossa mesquinhez e desilusão, lobisomem nos mostra o quanto o irracional pode ser o último refúgio autêntico do significado de uma causa.

Obrigado pelo post.

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